sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Uma fauna


Se o desonesto soubesse a vantagem de ser honesto,
 ele seria honesto ao menos por desonestidade.
Sócrates, o filósofo in “O Citador”

Em cada dia que passa as notícias vão chegando a conta-gotas, envergonhando não os visados mas os que neste país de corruptos, ainda vão tendo vergonha.
É aquele Secretário de Estado que arranjou colocações de luxo para os seus assessores, mas que tudo nega e os "média" deixam cair no esquecimento.
São as buscas de que são alvo os novos suspeitos dos casos Freeport, Face Oculta e outras trafulhices similares, que se pavoneiam pelas pantalhas televisivas afirmando com ar sarcástico e sorridente, que estão de consciência tranquila. E devem estar porque os "média" tudo vão deixando no esquecimento.
São os condenados do caso Casa Pia, a quem os “malandros” dos jovens violados injuriaram, pois tal como os demais, estão de consciência tranquila, inocentes como anjinhos papudos e que a pouco e pouco os "média" vão deixando cair no esquecimento.
É Sócrates, não o filósofo mas o político, aprendiz de governante, que no curriculum apresentado na Universidade de Columbia, nos USA, onde fez o famoso discurso em inglês não técnico, para vergonha do nosso país, aparece escandalosamente como licenciado pela Universidade de Coimbra e detentor de um MBA feito noutra famosa instituição de ensino superior e os “média” calam num silêncio cúmplice.
São instituições e empresas que fecham pela calada de um “e-mail”, enquanto os seus administradores ou proprietários vivem faustosamente em condomínios fechados e os “média” continuam calados numa tentativa de o povo ir esquecendo.
Isabel Alçada, que se tornou conhecida por, em parceria com Ana Maria Magalhães, se dedicar à literatura infantil, afirma com todo o desplante, com aquele ar "apardalado", que o ministério que tutela e a que chamam da educação e em resposta a Fernando Ruas e aos deputados que a questionam, que o seu nada deve às autarquias. Como se isso pudesse ser verdade. Haverá alguma entidade neste país que não seja credor do estado, começando pelo simples cidadão? Os “média” afloram o assunto e vão falando cada vez mais baixo.
São as próprias autarquias que vão delapidando as tesourarias das empresas que lhes prestam serviços sem que os “média” publiquem a lista desses calotes.
Convém não agitar muito as “águas”, por causa dos mercados, essa entidade que ninguém conhece mas que nos “lixa” a todos e nos impõe cada vez mais restrições. Os mercados e a Chanceler Ângela Merkel, que segundo o nosso ministro das finanças, considerado o mais incompetente da U.E., é a causadora de todos os nossos males.
Mas fica-se muito feliz porque o PIB recuperou 0,4 %. Trocos para a bica, como diria o Professor Medina Carreira.
Face à fauna acima citada, pessoas reconhecidamente ricas cujas empresas “faliram” ou se estão preparando para atingirem esse desiderato, mandando para a miséria não só os trabalhadores mas os credores das mesmas, não resisto em transcrever um excerto de um brilhante artigo subscrito pelo escritor moçambicano Mia Couto, sob o título “Pobres dos nossos ricos”:
A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza.
Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.
Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.
Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro, ou que pensa que tem.
Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele. A verdade é esta: são demasiados pobres os nossos "ricos". Aquilo que têm, não detêm.
Pior: aquilo que exibem como seu é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas.
Não podem porém, estes nossos endinheirados, usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados.
Necessitavam de forças policiais à altura.
Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia.
Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade.
Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem (...)”
Mia Couto refere-se aos ricos sem riqueza de Moçambique. Qualquer semelhança com a mesma fauna de Portugal é pura coincidência!!!!
 

Sem comentários:

Enviar um comentário