sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

…e tu, quem dizes que Eu Sou?

“Deus é puríssima essência. Para os que têm
Fé Nele, Deus simplesmente É”


Mohandas Gandhi in “O Citador”

O Padre Marco da Silva Luís, um jovem de 33 anos, em boa hora entendeu colocar a um naipe variado de pessoas, que vão desde estudantes a intelectuais, a mesma pergunta que um dia, há mais de dois mil anos, Jesus de Nazaré colocou aos seus apóstolos: “E vós quem dizeis que Eu Sou?”

Segundo os Evangelistas Mateus e Marcos, Pedro respondeu pelos doze, numa resposta acertada e intemporal.
E os trinta e quatro questionados pelo Padre Marco? Responderam como Pedro? Se assim fosse não valeria a pena a publicação das suas respostas em livro, que foi uma das minhas leituras de férias. Bastar-nos-ia recorrer ao Livro Sagrado. Tu és o Messias…
O testemunho de cada um daqueles interrogados é rico na sua diversidade. De salientar que alguns eram descrentes, até ao dia em que O encontraram.
Mas quem é que um dia não vacilou na sua crença no Senhor Deus? Não me envergonho de dizer que numa certa altura da vida me questionei onde é que Ele estava perante tanta barbárie a que assisti. Uma espécie de degola dos inocentes.
E andei “zangado” com Ele durante anos até que Ele veio de novo ter comigo.
Se esta pergunta fosse feita ao então meu camarada de armas, Furriel Miliciano Andorinho, ele responderia e passo a citar “…Deus é a capa da ignorância humana…”, a desculpa para o inexplicável. Como era filósofo o Andorinho. Nunca mais os nossos caminhos se voltaram a cruzar e já lá vão quarenta e um anos. Não sei pois se hoje não daria outra definição.
Encontrar Deus…
Estava eu embebido na leitura do livro, quando perto do local onde me encontrava na praia, escutei uma conversa entre um casal de idosos, que nunca vira antes.
O teor da conversa despertou a minha atenção. Abeirei-me deles e com algum atrevimento apresentei-me. Disse que era catequista e que livro estava de momento a ler. Não sabia nem fazia questão que me dissessem se acreditavam no Deus vivo, apenas que conversássemos.
Contaram-me então uma história que não passou afinal de um rico testemunho.
Há cerca de cinquenta anos, em Alcoutim, lugarejo à beira do Guadiana, existiu um jovem médico, recém-licenciado, originário de famílias alentejanas abastadas de Almodôvar.
Apesar do tempo passado, recorda-se ainda perfeitamente daquele jovem médico, que aplicou parte da sua fortuna na construção de uma espécie de clínica, avançada para a época, onde para além das consultas normais, efectuava também pequenas cirurgias.
Faziam-se excursões para que o Dr. João Cavaco curasse as maleitas daquela gente. Vinham doentes de Espanha, frisou o meu interlocutor.
O mais curioso, continuou, a maioria dos seus “clientes” era gente sem posses, que para além de não pagarem consulta, aquele santo médico ainda lhes dava dinheiro para os medicamentos e para a viajem de regresso.
Os primeiros críticos desta sua entrega ao próximo foi a própria família, por razões de delapidação da fortuna.
Mas mais perigoso que estes eram os médicos espanhóis da raia, que viam esfumar-se os seus doentes para o colega português.
Urdiram então um plano para o eliminarem fisicamente. E conseguiram. Subornaram, sabe-se lá a que preço, a empregada doméstica do médico, que o envenenou.
A morte súbita daquele começou a levantar suspeitas entre os seus doentes e o povo de Alcoutim. Passados que foram alguns anos e a insistências do povo, procedeu-se à exumação do cadáver tendo a autópsia revelado ou melhor, confirmado o que já se suspeitava.
À mesma pergunta do Padre Marco, este médico daria outra resposta. E deu-a com o seu exemplo de vida.
Contrariando o jovem do Evangelho que após questionar Jesus sobre a forma de proceder para herdar a vida eterna e desfrutar das benesses espirituais na vida futura, o Dr. João cumpriu tudo o que o Bom Mestre sugeriu àquele, até da fortuna se despojou.
Comecei por citar um não cristão, Gandhi. Termino com uma afirmação de uma cristã, a escritora belga de língua francesa, Marguerite Yourcenar, mais tarde cidadã americana:
“Quando perco tudo, resta-me Deus”!

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