domingo, 1 de agosto de 2010

O Sapo que aspirou ser boi

Esta é a crónica da polémica, melhor, da censura, escrita e não publicada aos 15 de Junho de 2000
“A sociedade já não é o que foi; não pode tornar a ser o que era; mas muito menos ainda pode ser o que é. O que há-de ser, não sei.”




Almeida Garrett



Ser sapo tem que se lhe diga. Não é sapo quem quer, mas sim quem nasce predestinado a sê-lo.

Tem de se estar imbuído de uma certa prosápia, nem que a mesma seja balofa. Ter bons pulmões para emitir coaxares fortes, parecer que é dotado de inteligência superior e possuir bons músculos nos membros anteriores, para dar o salto quando necessário, ou seja, quando a situação o exija.

Mas pior que ser sapo e se reduzir à sua mediania, é esse sapo pretender ser boi, como o da fábula, só que na verdade nenhum batráquio consegue inchar até ser boi. Alguns o serão mesmo sem incharem!!!

O sapo de que hoje vos falo é um sapo normal. Usou a técnica da insuflagem mas não conseguiu passar de um nascituro bezerrito. Não deu para ser mais. O estofo era pouco. Sempre se valeu de figuras de retórica e de uma mediana dialéctica (em terra de cegos quem tem olho é rei!!!), para fazer crer aos incautos que era boi. Ajuda solicitada umas vezes aqui, outras ali, foi fazendo boa figura. Mas nunca deixou de ser uma batraquial personagem, medíocre, vivente do reino do faz de contas, coaxando ora à esquerda, ora à direita, ora ao centro, como é timbre desta raça. Apesar de temido por na crendice popular se lhe atribuir o dom de possuir um poderoso veneno, o que é falso, as suas secreções glandulares, apenas vão causando algumas irritações ligeiras na pele de quem por elas é atingido.

Longe de ser o príncipe da fábula a quem o beijo da princesa devolveu o verdadeiro ser, o sapo desta história será talvez a antítese do outro. O seu beijo destila maldade, transformando, ou tentando transformar os seres em que toca, abaixo de sapo. Só que a fada madrinha vai estando por perto, impedindo as más metamorfoses desejadas.

Mesmo assim, consegue ter um pequeno séquito de sapinhos aduladores, que se sentem desamparados quando o sapo da história lhes falta. Tentam então eles fazer-se eco das sapais lucubrações. Pobres seres sem autonomia e inteligência próprias!!!

Numa coisa se esmerou. No fortalecimento muscular dos membros anteriores. Na altura própria pulou, sem antes dar umas coaxadas de desprezo e de maldizer.

É imperativo que a sociedade não continue a ser o que é.

O sapo desta fábula partiu, sem nunca chegar a ser boi. Ao menos valha-nos isso!!!

3 comentários:

  1. É com muito prazer que serei o primeiro a comentar este blog, se a rapidez informática não me pregar uma partida.
    Caro Amigo, decerto vais ter aqui o sucesso que desejas e mereces. Serei um leitor, tão assíduo quanto possível, porque esta vida de aposentado dá muito que fazer...
    Abração.
    Rui Lima

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  2. Manuel Martins,tomei conhecimento do seu blog,inaugurado em Grande, através do mail que me mandou."Conhecemo-nos" há já largo tempo devido à troca de mail's.Uns sérios,outros óptimos,outros tantos, apenas piadas para que possamos libertar o fígado de "más digestões"...Política?!venha ela,em forma de sapos, de bois, de camaliões,de sanguessugas,de bêstas, serve tudo desde que sirva para pôr e repôr a verdade da nojeira que é o (des)governo,e, desta coisa mal concebida a que um dia resolveram chamar...DEMOCRACIA!!!!!

    Os meus parabéns...Continue/Gostei

    Maria Soledade Alves

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  3. Boa, senhor Martins! Muito "à frente" essa ideia de criar um blog....serei assídua!Parabéns.
    Beijo
    Águia da Estrela

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