terça-feira, 21 de setembro de 2010

Apenas cumpria a sua missão

A morte é o final a que chega todo o ser humano
e que não se pode evitar com a precaução de ficar 
fechado em casa. O ser humano de coragem deve
entrar nos empreendimentos com uma confiança
generosa e opor a todas as desgraças que o
céu lhe envia, uma coragem invencível

                                          Demóstenes in “O Citador”

Com o apoio de várias Câmaras Municipais, Governos Civis e de outras entidades o Professor Domingos Xavier Viegas, natural de Pangim, Goa, uma das antigas pérolas do Império Português, deu à estampa um livro onde, sob o título “Cercados pelo Fogo”, analisava os acidentes onde vinte e um seres humanos perderam a vida nos graves incêndios que assolaram o país em 2003, dois bombeiros portugueses, dois técnicos chilenos e dezassete civis.
Estudioso dos Incêndios Florestais, no âmbito da ADAI – Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial, era pretensão do Professor escalpelizar os motivos que levaram à morte pelo fogo de todas e de cada uma das vítimas.
Naquele seu livro, cuja capa nos retrata o incêndio de Vilar da Carga em 6 Agosto de 2003, livro que tenho o prazer de para além o possuir na minha biblioteca, o ter lido com atenção, Xavier Viegas, depois de analisar todos e cada um dos locais dos desastres, a aerodinâmica do vento originada pela morfologia do terreno, tenta transmitir aos futuros combatentes deste flagelo cíclico, sejam eles bombeiros ou apenas cidadãos voluntariosos, o que afinal são todos, formas de se defenderem, melhor, preverem as mudanças súbitas do vento, que os levam a ser cercados pelo fogo e a perderem a vida pelo bem comum.
Mau grado este instrumento de trabalho, o ano de 2005 foi ainda mais trágico que o de 2003.
Em “Cercados pelo Fogo - Parte 2”, em cuja capa é retratado o incêndio de Famalicão da Serra, o Professor deixa-nos um relato dos acidentes ocorridos nos incêndios florestais que deflagraram em Portugal naquele ano, causando a morte de 22 pessoas.
O leitor é conduzido a percorrer consigo os passos da investigação realizada a cada caso, fazendo-o participar no processo de aprendizagem das lições que se podem retirar destes acidentes, com vista a melhorar a segurança pessoal não só dos Bombeiros, mas também dos cidadãos comuns.
Incluem-se neste livro os acidentes de Mortágua, de Pampilhosa da Serra, de Oliveira de Azeméis e de Mogadouro, ocorridos em 2005, envolvendo corporações de Bombeiros como as de Cortes, Algaça e Sertã e outros envolvendo apenas civis, chegando mesmo a fazer uma incursão pelo de Famalicão da Serra, ocorrido em 2006 e o pelos de Guadalajara e de Cerdedo, ocorridos em Espanha.
Embora a maioria destes acidentes envolva um cerco pelo fogo, alguns deles resultaram de acidentes na estrada e, pelo menos dois, de exaustão e de sobre exposição ao calor e ao fumo por parte de Bombeiros.
Mau grado se baseie num trabalho de investigação científica realizado pelo autor e pela sua equipa, este livro, tal como o primeiro, destina-se ao público em geral, para aumentar a sensibilidade das pessoas para o problema. Constitui uma leitura indispensável para todas as pessoas que trabalham ou vivem junto da floresta e interessa a todos aqueles que estejam empenhados na defesa da Natureza e da Vida.
Apesar destes e de outros alertas, Portugal continua a arder. Os incêndios deste ano já fizeram as suas vítimas, quatro se a memória não me atraiçoa.
Dessas, três ficam a dever-se a acidentes de viação quando circulavam de e para os incêndios e apenas uma, sendo que este apenas é do tamanho do mundo, foi consumida pelo fogo: Josefa Santos, 21 anos, estudante universitária, que só queria que não a deixassem sozinha no meio da mata.
Faço minhas as palavras de um popular que quis manter o anonimato, um dos organizadores da homenagem que o povo de Monte Meda, na Lomba, Gondomar, e os Voluntários de Lourosa, Feira, lhe quiseram prestar no local fatídico onde as chamas lhe cercearam a vida:
Morreste a defender uma terra que nunca tinhas pisado, pessoas que não conhecias, propriedades e bens que nunca usufruístes. Com a sabedoria dos eleitos perseguiste com coragem a missão que te estava confiada e da qual tantas vezes recolheste apenas e só, gratidão íntima".
Nestas poucas palavras, poucas mas sábias, aquele anónimo deixou expresso o verdadeiro sentido de entrega dos Soldados da Paz. Que descanse em Paz!!!

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